segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Uma profissão de ideais

As razões que levam um recém formado do nível médio a escolher um curso de licenciatura são nobres e diversas:

- Eu gosto da aula do professor Pedro.

- Eu queria fazer engenharia de cultivo de ervilhas nos Alpes suíços (não me assustaria encontrar esse curso no próximo edital)! Mas é integral e preciso trabalhar. Licenciatura é a noite. Vai esse mesmo.

- Ponto de corte 22. Acho que dá pra passar. Preciso é de um diploma

E em alguns casos:

- Quero formar cidadãos mais preparados para as diversidades da nossa sociedade. Poder passar para frente o meu conhecimento.

Independente do motivo, acredito que pelo menos a maioria chega à sala de aula com aquela inquietação por dentro. Vontade de poder entrar em uma sala de aula e poder marcar a vida dos indivíduos ainda em formação. Fazer um mundo melhor formando pessoas melhores. E com toda essa motivação em chamas no peito o diretor do curso aparece para nos dar as boas vindas. Esperamos excitados para ouvi-lo dissertar sobre nossa ótima escolha de um curso de natureza tão nobre. E aí vêm suas palavras.

- Apesar de tudo. Vocês devem se alegrar, pois é muito bom dizer que se tem uma profissão. Vocês não serão auxiliares de serviços gerais. Serão professores. É bom poder ter ao menos esse título.

Bem. Acho que não fui o único a não ficar animado com essa declaração. Deixe passar. Tenho certeza que é só a opinião dele. Bem! O primeiro professor entra e também fala um pouco sobre o curso:

- Se animem! Ser professor não é tão ruim. Você não será rico, mas se buscar, poderá ter uma vida até agradável.

É. Obrigado pela sua sinceridade. Admiro isso. Mas essa opinião ainda não nos desanima. Estamos apenas começando e podemos ouvir muitas opiniões boas ou ruins. Com certeza, as disciplinas pedagógicas no darão uma visão melhor sobre esse maravilhoso e nobre mundo da educação. E nos deu uma visão realista. Alguns dizem que é só uma visão pessimista. Mas os que o dizem são os otimistas.

- A educação no Brasil tem tantos problemas.

Parece que são tantos que não deu pra falar sobre eles em um semestre. Afinal só se falou de problemas. Sem discussão sobre o que poderia vir a ser alguma solução.

Mas nada disso desanima, pois, afinal, a maioria ainda não viu com os próprios olhos o sistema.

Pois bem. Eu confesso que quis queimar meus olhos já no meu primeiro conselho de classe.

- Esse aluno não aprende nada. Vou apenas dar a média e ano que vem ele se acerta.

Seria meu otimismo de recém iniciado na literatura pedagógica que me fez retorcer por dentro em ver um professor (que ainda acredito ser aquela nobre profissão) dar tal tratamento não a um indivíduo, mas ao futuro de uma criança. Não culpei esse professor, pois logo após ele, outro professor corajoso se manifestou:

- Não concordo com isso. Se o aluno tem tais problemas é necessário procurar outra forma de trabalhar com ele.

Era isso que eu desejava ouvir e até mesmo ter dito. Mas a direção foi contra.

- Não seja carrasco. Ele trabalha. De a nota e deixe-o em paz.

Eu quis dizer um palavrão. Tive vontade de lamentar em voz alta pela formação desses professores. Qual o papel da escola? Qual o papel do professor? Imprimir um papel no final do ano que servirá de identificação de acesso para o mercado de trabalho?

Apenas eu consigo ver os problemas dessa realidade? Um vírus de comodidade. Desde a formação dos profissionais até sua atuação. E por fim ouvimos reclamações como “os pais não acompanham os filhos”. Nem os professores o estão fazendo. E essa é a função dos professores. Por mais que acredite que esse seria um papel importante para os pais, não acredito que seja o motivo de tantos profissionais incapacitados. Pela podridão que se vê no sistema atual os pais não têm sequer parcela considerável.

Precisamos discutir sobre o assunto. Dê sua opinião.

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